segunda-feira, 27 de agosto de 2012


O Marketing Pessoal do Executivo


 Qual é a imagem que normalmente temos de um executivo/profissional eficaz?

      A de um elemento dinâmico que vive rodeado e admirado por pessoas, objetivo, voltado para resultados, esportista etc. Algumas dessas dimensões poderão ser enquadradas no que chamaríamos de competência gerencial , outras na dimensão denominada imagem profissional .
      No contexto gerencial brasileiro, o importante não é apenas “ser” um bom executivo, mas também “parecer ser” um bom gerente. Esta afirmativa encontra amplo respaldo dentro de minha experiência profissional. Fora do Brasil, especialmente nos Estados Unidos, cada vez maior é o número de executivos/profissionais que dedicam ao “self promotion”, uma importância significativa, especialmente no que diz respeito à alocação do tempo.
      No Brasil, vivemos numa sociedade empresarial que avalia as pessoas não apenas em função dos resultados conseguidos por ela, mas também em função da imagem que é projetada, da “embalagem” com que ela se apresenta. A afirmativa vale não só para a imagem que é projetada, externamente à empresa, mas também, internamente, entre companheiros de trabalho. Infelizmente, conhecemos casos de executivos que acreditam ser a competência técnica ou gerencial o valor maior e único: como se um bom produto pudesse ser vendido com uma embalagem inadequada. Esses executivos/profissionais sobrevivem com relativa facilidade quando o mercado está em alta; nas situações de crise como a que estamos vivendo, torna-se fundamental o casamento entre a competência, a visibilidade e/ou imagem existente.
      Por essa razão, é comum o caso de executivos extremamente capazes que, desempregados em função da situação econômica do país, encontram muita dificuldade em se recolocar. A razão é simples: eles eram “bons” no universo de sua empresa, mas o mundo exterior os desconhecia.
      Acredito, portanto, que deva se constituir em preocupação permanente do executivo e do profissional o desenvolvimento de determinadas atividades que poderemos chamar de “marketing pessoal” ou “self promotion”. Não se pretende, obviamente, dar “pesos” à dimensão competência ou à dimensão imagem, mas apenas abordar um lado pouco explorado da questão.
      Sem pretender esgotar o assunto, permito-me propor algumas sugestões ao executivo competente que busque maior visibilidade perante o mercado (sem qualquer idéia de prioridade):
      •  Associe-se aos órgãos de classe, associações comerciais, freqüente as reuniões, se possível faça parte da diretoria. Adote uma postura atuante em defesa de classes ou interesses; tenha uma “bandeira” mais ou menos permanente, buscando também manter permanentes contatos com os demais associados.
      •  Freqüente congressos, seminários, sempre que possível também na qualidade de expositor de determinado tema ou experiência.
      •  Contate organizações especializadas em colocação de gerentes e profissionais, atualizando a visão de mercado, apesar de não demonstrar interesse imediato de trocar de emprego. Procure caracterizar o interesse em conhecer o mercado; quanto menos interesse demonstrar em mudar de posição, mais procurado será para fazê-lo.
      •  Procure manter contato regularmente com ex-colegas de colégio, faculdade, amigos, clientes, e não apenas quando “precisa” de ajuda. Busque ter iniciativa de contato e não aguarde passivamente ser “convidado”.
      •  Nos contatos sociais, profissionais, procure enfatizar os aspectos positivos de sua “vida funcional”, seus êxitos, o que pretende fazer e não o que já foi conseguido. A ênfase no fracasso e/ou as queixas permanentes não ajudam à imagem do gerente/profissional. Ninguém gosta de conviver com fracassados.
      •  Tenha um registro dos aniversários, casamentos e acontecimentos importantes relacionados a amigos ou pessoas que se destacam, enviando carta, telegramas, contatando-as nas épocas próprias.
      •  Procure assinar revistas internacionais tipo: Time, Fortune, Business Week, Harvard. Busque ler as publicações nacionais assim que chegarem às bancas. Estar bem informado é visto como indicador de competência.
      •  Pratique esportes regularmente, especialmente aqueles de caráter coletivo; não raro a imagem de uma pessoa saudável se confunde com a de um gerente/profissional eficaz.
      •  Durante reuniões de negociações há determinados comportamentos que contribuem para a formação de uma imagem positiva: ouvir mais do que falar; quando falar, ser objetivo; mostrar profunda convicção sobre os pontos de vista, embora abrindo a possibilidade de ser convencido, por uma boa argumentação; antes de qualquer posição avaliativa procure ter uma postura de busca de informações para posterior avaliação; demonstre também uma preocupação com as necessidades e expectativas da outra parte, buscando alternativas interessantes para os dois lados. Todas essas sugestões pouco ou nada valerão se o gerente/profissional não possuir o que poderíamos chamar de planejamento de vida e/ou carreira.
      •  Lembre-se que vivemos hoje no que se pode chamar de “sistema aberto”. Sua empresa não é todo seu mundo. Procure organizar atividades de intercâmbio com o mundo exterior – visitas a outras organizações, por exemplo. Esta é uma maneira de você conhecer o que os outros estão fazendo (inclusive organizações competidoras) e de aumentar sua visibilidade em relação a eles.
      •  Uma postura voltada para a inovação é também fundamental. A preocupação com atividades de manutenção do “status quo” é legítima, mas é o “novo” que realmente conta em termos de imagem.
      •  Transmita a todas as pessoas de sua organização uma preocupação genuína com o aspecto, custo-benefício; enfatize, através de exemplos, a importância que dá à dimensão “custos” na execução de qualquer trabalho.
      •  Após a execução de qualquer trabalho para o usuário, busque um contato, pessoal ou não, para analisar seu grau de satisfação com o serviço prestado; evite posturas defensivas ao receber o feedback. O importante não é apenas fazer a “tarefa”, mas preocupar-se com os respectivos benefícios e grau de satisfação do cliente.
      •  Lembre-se que, além de sua área, sua empresa tem outros mundos; habitue-se a visitar estes mundos e a discutir com as chefias a qualidade e forma dos serviços que você tem prestado. A sinergia melhora a sua imagem.
      •  Adote uma atitude proativa em relação às necessidades de sua clientela. Atuações reativas nos levam a trabalhar sempre em clima de crise, com menor rendimento e maiores riscos.
      •  Busque escrever aquilo que possa retratar os resultados de sua vivência profissional, para que possa lhe servir de subsídios para artigos de caráter geral que você possa vir a publicar em jornais (ex.: Coluna Ponto Final/Jornal Pioneiro). Isso o manterá em contato com os meios de comunicação.
      A existência desse planejamento vai possibilitar o direcionamento das atividades relacionadas, anteriormente, no sentido da consecução de um determinado objetivo preestabelecido.
      É importante lembrar que a competência será sempre a longo prazo. Dificilmente o marketing, por melhor que seja, conseguirá vender um “mau produto” durante muito tempo. E, mesmo que a venda seja efetuada, o “comprador” logo se livrará da mercadoria.
 
      *Baseado em artigo de Luiz Augusto Costacurta Junqueira – Diretor da OPC/RJ.
 
      Ao procurar um aluno que passou por um curso de renome, o mercado está garantindo a CPU, o cérebro.
      Se vai funcionar bem, depende do sistema operacional, ou seja, do ambiente de trabalho.
      Também é necessário que o aluno mude sempre de aplicativos, faça “upgrades”, para se renovar.
      Mas de nada valem uma boa máquina e um bom programa, se o monitor, onde se dá a apresentação, é ruim.
      É essencial saber se relacionar. (Ver texto Trabalho x cara bonita ).
Shigueharu Matai
Coordenador de Estágios do Curso de Engenharia da Computação da USP


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Paulo Blikstein

Coisas que eu queria saber aos 21


Professor da Universidade Stanford, Paulo Blikstein fala sobre sua formação


http://tltl.stanford.edu/people


27 de setembro de 2011 | 0h 00
Estadão.edu
"Não foi surpresa chegar aos 17 anos sem saber o que fazer: Cinema, Economia, Engenharia ou nenhuma das anteriores? Até os 14, estudei numa escola fundada pela filha do educador Paulo Freire. Não tinha provas, aprendi a gostar de aprender. Na época tracei meu primeiro e modestíssimo plano de carreira: ser cientista e descobrir a fórmula da imortalidade.
 - Divulgação
Divulgação
Fiz o ensino médio no Colégio Equipe. Sempre gostei de ciências e de eletrônica, mas adorava fazer vídeos e me interessei também por economia.
A dez minutos do prazo de entrega da inscrição na Fuvest, minha ficha estava em branco. Lembrei do que meu avô havia me dito: ‘Faça sempre o mais difícil para você.’ Escrevi Engenharia e entreguei.
Do mundo da educação alternativa, caí na Politécnica da USP. É a melhor escola do País, mas o sistema de ensino era cruel e conservador. Quando vi que ia me formar, decidi realizar um dos sonhos adiados. Fiz Cinema: passava o dia entre engenheiros e a noite entre cineastas e atores. Formado, abri uma empresa de produtos de educação a distância, escrevi uma sitcom e dois documentários científicos, dei aulas na FGV e fui apresentador de TV.
Ainda queria mudar o ensino de Engenharia, achava que afastava gente criativa. Fiz mestrado na Poli e numa visita ao Massachusetts Institute of Technology, em Boston, descobri um grupo que pesquisava como reformular não só o ensino da área, mas todo o sistema educacional. Após outro mestrado no MIT, no Media Lab, passei cinco anos na Northwestern University, em Chicago, num doutorado em Educação.
Hoje, em Stanford, meu laboratório é um retrato dessa história. Trabalho na escola de educação, mas metade dos meus alunos são engenheiros. Livros do Piaget estão na estante de manuais de robótica; transístores e obras de Paulo Freire ficam na mesma bancada.
Aos 21, queria ter entendido que não ter sonhos é tão errado quanto não deixá-los evoluir. Como o vinho, há um tempo certo para eles. Começam malformados, egocêntricos, mas vão se tornando possibilidades, planos de ação e, enfim, realidade. Aos 10 anos, meu bisavô morreu, e eu sonhava em descobrir a fórmula da imortalidade. Hoje pesquiso o aprendizado, esse estranho hábito de passar a cultura de geração para geração – a forma que a humanidade encontrou de ser imortal.”

Paulo Blikstein:"O Brasil precisa de consenso sobre o que quer na educação"


15-Ago-2011

Brasileiro premiado nos EUA diz que País tem chance rara de reinventar seu modelo educacional

Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo
ENTREVISTA
Paulo Blikstein, engenheiro e professor da Universidade de Stanford
Aos 39 anos, o brasileiro Paulo Blikstein tem muitas conquistas no currículo. Formado pela Universidade de São Paulo (USP), ele é professor da Universidade de Stanford e acaba de ganhar o Early Career Award, da National Science Foundation (NSF).
O prêmio é um dos mais importantes dos Estados Unidos e é concedido a jovens docentes. Blikstein receberá US$ 600 mil para investir em seu projeto, que consiste numa forma inovadora de ensinar conteúdos avançados de ciências nos ensinos fundamental e médio. "Esse prêmio significa o reconhecimento, mesmo por uma instituição relativamente conservadora, de que as ideias que defendo são possíveis", disse. Ele vai participar do encontro internacional de educação Sala Mundo Curitiba 2011, nos dias 17 e 18. Leia entrevista que ele concedeu ao Estado.
No que consiste a pesquisa?
Ciência de ponta não é feita mais só com tubos de ensaio, é feita com tubos de ensaio conectados a computadores, que rodam modelos matemáticos. O que eu fiz foi trazer isso para a escola, trazer ciência de ponta para o aluno. Chega de ciência da década de 30. E o meu projeto é fazer o equipamento custar o mesmo que um livro didático, e ser de código totalmente aberto e público. Teremos quatro universidades americanas implementando o protótipo em escolas secundárias a partir de 2012, além de escolas na Tailândia e na Rússia.
Como a ciência pode ajudar a despertar o interesse do aluno pela escola?
Ciência é um instrumento de cidadania. Os problemas do mundo moderno são muito mais complexos que antes - aquecimento global, neurociência, etc. Precisamos entender tudo isso para votar, participar do debate público. Mas para criarmos mais cientistas e engenheiros, temos de ensinar de um jeito motivador, fazer o aluno gostar de ciência e engenharia. Boa parte do meu trabalho é criar formas de ensinar ciência e matemática com o que chamamos de "motivação intrínseca". Você já ouviu falar de alguém que virou ator mas detestava as aulas de teatro?
Como podemos aplicar isso no Brasil?
Muita gente acha que no Brasil só podemos fazer o básico porque não há dinheiro para a educação, muito menos para tecnologia. Não é verdade. Há dez anos me disseram que não dava para fazer robótica educacional no Brasil porque os kits custavam US$ 300. Eu voltei para o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e, com meu colega Arnan Sipitakiat, fiz uma placa de robótica de US$ 20, a GoGo Board.
Como você vê a educação no Brasil hoje?
O Brasil está avançando, mas precisamos de um consenso nacional sobre o que queremos. Às vezes queremos imitar Cingapura, outras vezes a Holanda, sendo que esses países têm sistemas completamente diferentes. Ficamos correndo atrás de rankings internacionais do mesmo jeito que corremos atrás do ranking da Fifa, sem saber o que eles medem. Hoje temos uma chance rara - com todo o crescimento econômico da última década, podemos reinventar a educação brasileira. Poucos países têm essa chance. Mas precisamos parar e pensar o que queremos, a escola da Coreia do Sul, baseada na decoreba, ou a da Finlândia, baseada na liberdade do aluno e do professor. Os dois são líderes. Precisamos fazer escolhas.
Quais são os nossos principais problemas na educação básica?
Uma parte da educação pode ser padronizada, uma parte não pode, depende do nível de renda, da família, da região, da cultura. Para isso, precisamos de professores treinados para fazer as duas partes - a parte mais técnica, de ensinar o currículo, e a parte mais sofisticada, de adaptar o currículo à realidade local. Professor autômato não funciona.
Você pretende trazer seus projetos para o Brasil?
Adoraria, mas quando estiverem no ponto certo. Vou implementá-los na Rússia, na Tailândia, por que não no Brasil? Só precisamos de bons parceiros. Meu sonho é ajudar a educação brasileira. Continuo desenvolvendo tecnologia de baixo custo, justamente por isso.
QUEM É
É mestre pelo MIT Media Lab e doutor pela Northwestern University. Hoje, dá aula nas áreas de educação e de engenharia da Universidade de Stanford, onde dirige um dos principais laboratórios de tecnologia educacional dos EUA.

A Escola dos Homens Tristes
Paulo Blikstein
http://www.blikstein.com/paulo/documents/other/other_escoladoshomenstristes.html


DISCURSO DE FORMATURA
http://www.blikstein.com/paulo/documents/other/other_discurso_de_formatura.html

Onde você vai estar quando o relógio bater meia noite e o próximo milênio chegar?

Na escola, quando estudamos história, aprendemos que primeiro houve a revolucionária civilização grega, depois o invencível império romano, em seguida o tempo de glória dos senhores feudais, então o de Portugal, da Espanha, da Inglaterra, dos Estados Unidos, do Japão... Enfim, grandes impérios e potências que alcançaram a glória e invariavelmente decaíram. As razões disso são estudadas pelos historiadores há décadas, mas entre elas duas são certas: a acomodação e a incapacidade de diagnosticar corretamente os problemas.
E o que isso tudo tem com a nossa Poli? Consideremos um grande império feudal. Tem o seu rei, seus nobres, seus pequenos feudos, sua pequena política, suas guerras, lavoura, servos. É um país poderoso, seus nobres vivem bem e seu rei é feliz.
Um belo dia o rei e seus assessores, analisando os números da colheita, vêem que seus lucros estão caindo. O rei, furioso, pergunta aos seus assessores: de quem é a culpa?! Eles logo respondem: “Do povo, Majestade. Nosso povo é que trabalha pouco”. “Aumentem as taxas e as horas de trabalho”, diz o rei. Entretanto, como não havia comunicação entre o rei a população, ele desconhecia que seu povo trabalhava sem instrumentos adequados, sem infra-estrutura e sem motivação. Era até um milagre que, com condições tão ruins de trabalho, o império não tivesse ido à falência antes.
Os nobres, que deveriam administrar mais diretamente as terras, davam diagnósticos errados e, mesmo sem perceber, se eximiam de toda culpa. “A culpa não é nossa: é do nosso povo vagabundo” - diziam. “Mudem a jornada de trabalho!”, “Sejam mais severos nos castigos!” - exclamavam aos quatro cantos. Fizeram o rei aprovar inúmeras leis (sempre as mais óbvias) que iriam criar “um novo reino”, “um reino moderno”, “o reino do próximo século”. Mas, ano após ano a produção foi caindo, o povo foi indo embora para outros países, até que aquele grande império, outrora imbatível, se transformou em uma terra decadente, pobre e sobretudo triste.
Os erros dos reis e de seus nobres: se acomodaram com sua pomposa grandiosidade e errarem no diagnóstico, porque não tiveram coragem de fazer autocrítica e contrariar interesses de seus pares. Na verdade, eles deveriam é investir tempo e recursos em melhorar a infra-estrutura e seus próprios métodos arcaicos de produção. O povo, como sempre, era o menos culpado.
É claro que qualquer semelhança com a nossa Poli não terá sido mera coincidência. E vejamos: há quase uma década se tenta fazer a tão falada “modernização curricular” e parece que ela sempre parte de um pressuposto: o problema está no “povo”, que no caso são os alunos da Poli. Por uma questão de justiça, devemos dizer que muitos professores bem intencionados participaram das várias comissões de “modernização”. Entretanto, sempre a mesma proposta aparece: a Poli deve voltar a ser como há quarenta anos: período integral, curso seriado, opção de curso após o vestibular etc. Exigem até a criação de mais mecanismos burocráticos para complicar a vida do aluno, para que ele afinal “estude mais”. Segundo muitas pessoas na Poli, essas propostas são precondição para melhorar o ensino na Escola.
O erro: diagnóstico equivocado. O problema da escola não é a falta de dispositivos burocráticos para obrigar os alunos a estudarem. Temos isso de sobra. Dizer que os alunos da Poli não estudam é dizer que a elite intelectual do 2º grau do Brasil é composta por vagabundos. Ora, se o aluno da Poli não é estudioso, quem é? Os melhores alunos do país não estão aqui. Vamos ter que importar alunos bons de outros países? Se a Poli tem uma grande virtude, é a de reunir um excelente corpo discente. Nossa escola tem à disposição o melhor material humano possível para Engenharia.
O que acontece, e o que os nossos nobres não enxergam, é que o aluno entra na Poli motivado, sério, disposto a estudar, formar-se rapidamente e poder exercer sua profissão. Entretanto, desde o primeiro ano ele depara com um curso árido, estranho e desconexo, muitos professores sem experiência ou preocupação didática, índices de reprovação pornográficos (que em qualquer escola do mundo causariam pelo menos uma interpelação ao professor), disciplinas que sequer usam a mesma notação, pouca ou nenhuma preocupação com a adaptação do aluno à Poli e, principalmente, nada que lembre a profissão do Engenheiro. A justificativa oficial: não querem ser paternalistas. Mas entre não ser paternalista e jogar o aluno à sua própria sorte há uma grande diferença. E aí começa um círculo vicioso: o aluno não consegue acompanhar uma ou outra matéria, não tem orientação para estudar, desorganiza o seu currículo, perde a motivação e muitas vezes desiste. E estamos perdendo excelentes alunos para a FEA, ECA, GV e Unicamp. Não porque eles não possam ser bons engenheiros, mas porque o Poli, verdade seja dita, é um ambiente muito hostil.
É aceitável que uma escola de Engenharia seja um pouco hostil, com tantos cálculos e físicas. Ninguém propõe que sejamos um clube universitário. Mas estamos passando (e muito) dos limites. Cultivamos aqui uma verdadeira cultura de sadismo: quanto mais sofrer, mais se aprende e mais você estará preparado para a vida. Por conta disso, a Poli se tornou um ambiente insalubre, triste, onde as pessoas têm muito pouco prazer no que fazem. E como formar um engenheiro que sequer gosta de seu curso?
Os proponentes das “mudanças” talvez dirão que suas propostas são apenas um primeiro passo: depois virá a revisão real dos currículos, os novos métodos de ensino, a fiscalização dos maus docentes. É até possível que isso aconteça, mas tudo está sendo feito na ordem errada. Mudar o horário, criar novos cargos e mudar a opção de curso são mudanças vazias: em si, não melhoram nada. Na verdade, o horário da Escola não tem nada de errado e existem cargos (e liberdade para criá-los) de sobra. A opção de curso tem funcionado muito bem até agora e não é ela a causa de nossos problemas.
O que deveria ser feito então? Ora, exatamente aquilo que a Comissão de Atualização Curricular não fez: ter idéias novas, criativas. Quase todas foram como uma “volta ao passado”. O que há de novo, de surpreendente, de intrinsecamente importante nas propostas? Quase nada. E essa é a nossa maior decepção.
O documento apresentado pela CAC, como está, não resolve nossos problemas mais básicos. Não fala uma palavra sobre uma nova filosofia, um novo princípio ético para a Poli. “Isso está em estudo”, dirão eles. Mas isso tem que vir primeiro, e não na forma de belos textos, mas de ação! Com medo de ousar, a comissão reduziu suas propostas ao mais básico e genérico. Esqueceu também de dizer como viabilizar as suas propostas. Como acomodar 4000 alunos em período integral? Temos bibliotecas? Temos restaurante? Temos salas de aula? Não se sabe. Como será o “período integral”? Vamos prender o aluno na escola o dia todo? Em que horário ele vai estudar? E aprender inglês? E fazer um curso extracurricular na sua área? E fazer estágio, que é cada dia mais importante? Em que, concretamente, o período integral vai melhorar a qualidade global do engenheiro formado? Não se sabe. “Deixemos isso para depois”, eles vão dizer. Afinal, o importante agora é aprovar os princípios gerais. Errado: como aprovar uma fórmula que, de cara, já traz dezenas de contradições? Sem um estudo detalhado das conseqüências de todas essas propostas (como em qualquer projeto de Engenharia), será um irresponsável salto no escuro.
A posição de melhor escola de Engenharia do país não é um título vitalício. Se a Poli não voltar a se preocupar com os seus alunos, oferecendo um curso mais interessante e menos massacrante, é inevitável que as coisas comecem a decair. Vamos encarar a realidade: a Engenharia há tempos não é a carreira mais concorrida e o anti-marketing da Poli como fábrica de loucos está se espalhando rapidamente.
Sempre fomos vanguarda, e esse sempre foi o melhor marketing para a nossa escola. Agora, as coisas se inverteram: a Poli virou um lugar velho, engessado, acomodado nas glórias do passado. Se não acordarmos, teremos o mesmo fim de todos os impérios do passado: uma triste decadência.
Mas acordar não significa fazer mudanças de gabinete. Significa contrariar interesses de grupos poderosos, romper velhos mitos e ter novas idéias de como se deve ensinar engenharia. A aluno da Poli não pode permitir que ele seja, de novo, o primeiro e único prejudicado pelas “mudanças”. Com seriedade (como bons engenheirandos) devemos fazer nossas críticas e apresentar proposta concretas para melhorar nossa Escola. Mostremos que não adianta combater efeitos sem eliminar causas.
Não se trata de formar uma comissão para discutir o assunto, nem de criar rivalidade: estamos falando de autocrítica real e ação concreta, além de um profundo exame de consciência em todos nós. Se conseguirmos criar um pacto ético entre alunos e professores – o que é, afinal, o mais importante – é possível que a Poli não seja mais somente uma boa escola de Engenharia, mas o mais competente e vibrante curso universitário do Brasil.
Paulo Blikstein
Maio de 1997


Discurso de formaturaPaulo Blikstein

Aos formandos da Escola Politécnica da USP em 1998

Excelentíssimo Sr. Governador do Estado de São Paulo, Dr. Mário Covas, representado pela Sra. Lila Covas e pelo Secretário da Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Prof. Dr. Flávio Fava de Moraes; Excelentíssima Sra. Pró-Reitora de Graduação da USP, Professora Doutora Ada Pellegrini Grinover, Excelentíssimo Sr. Diretor da Escola Politécnica da USP, Prof. Dr. Antonio Marcos de Aguirra Massola, Ilustríssimo Paraninfo, Prof. Dr. José Sidnei Colombo Martini, ilustríssimos membros de mesa solene, senhores professores, senhores pais, Engenheirandos, caros convidados.
Porque nós decidimos fazer engenharia? Talvez esse seja um bom momento para nos lembrarmos. O que nos fascina na profissão de engenheiro? Nada melhor do que lembrar o pai da física clássica: afinal, quantos milhões de pessoas viram a maçã cair da árvore antes que Isaac Newton perguntasse “Por quê?”. Talvez o mais fascinante da profissão do engenheiro seja precisamente isso: perguntar os “porquês”, ir além do senso comum, fazer o que nunca foi feito, adquirir as ferramentas para reinventar o mundo.
Mas por que falar em mudanças, em novas invenções numa época em que tudo já parece estar pronto e inventado? Ora, basta citar a famosa frase do engenheiro-chefe dos correios da Inglaterra, no final do século passado, ao escrever uma carta ao rei desencorajando os investimentos em telefonia, com a seguinte justificativa:
“Os americanos precisam de telefones, os ingleses não. Nós temos um grande número de mensageiros em nosso país.”
Parece que a história mostrou que o Sr. William estava errado. Mas, mesmo hoje em dia, será que não há muitas pessoas que pensam da mesma forma? E se nós, engenheiros, não lutarmos por desenvolver tecnologia no Brasil, quem o fará? E como disseram nossos pais quando entramos na Poli, não somos nós que vamos construir o Brasil do futuro?
Mas… será que o engenheiro é mesmo um construtor? Vivemos tempos de mudanças vertiginosas, globalização, Internet, tecnologia, mas também de desemprego tecnológico, solidão via Internet e incerteza sem fronteiras. O engenheiro de hoje tem que ser diferente: antes de ser um construtor, deve ser um desconstrutor.
Não estranhem. Nossa grande tarefa é exatamente essa: desconstruir o mundo. Nossa função mais nobre não é apenas juntar tijolos ou transístores para construir prédios ou computadores. Nossa grande missão é desconstuir a realidade como a conhecemos, dissecá-la, desmembrá-la, virá-la do avesso. Para que servem então os cálculos e as físicas senão para que nos treinemos a desmontar a realidade, a não aceitá-la como nos apresentam, a lembrar sempre que não há verdade absoluta, a acreditar que há sempre uma forma melhor, ou simplemente diferente, de entender e de fazer as coisas?
Devemos desconstruir esse país. Comecemos por desmontar a sua injusta distribuição de renda, que coloca milhões de brasileiros abaixo da linha da miséria. Desconstruamos então o nosso arcaico sistema educacional, que considera o cérebro de nossos jovens como um recipiente para ser preenchido e não como uma tocha para ser incendiada. Vamos inverter o sinal da derivada de injustiça social, igualemos a zero a fome em nossas ruas, estimulemos a nucleação e o crescimento da solidariedade, construamos as estruturas e fundações de um novo Brasil, onde a esperança não exista só no limite, mas no plano da realidade.
Depois, é claro, teremos que reconstruir o mundo. E aí não bastará colocar em prática apenas o que aprendemos nas aulas.
Sim, porque ao engenheiro do próximo milênio não bastarão as exatas. O que precisamos, cada vez mais, é do engenheiro humano. Aquele que sabe tudo de física, mas lê sociologia e se interessa por arte, que raciocina rápido, mas tem sensibilidade social, que lidera, mas tem humildade para ser liderado também. Engana-se quem imagina que o engenheiro deva ser um autômato. Pois o grande poeta Manuel Bandeira não era politécnico? As exatas devem ser as nossas ferramentas, não a nossa única forma de pensamento.
Um dos maiores compositores franceses, Guy Béart, não por coincidência um engenheiro civil formado na melhor escola de engenharia da França, disse que, para ser feliz, o homem deve ter pequenos desejos cotidianos, que ele pode realizar, e um grande projeto, que o faz sonhar.
E nós perguntamos, nesse dia que é a realização do maior sonho de todos nós: quais serão os próximos? Qual é o grande projeto de cada um de nós? Ser executivo, ter filhos, ser professor, escrever um livro, ser cineasta, dançarina, fotógrafo, flautista. Quantos querem viajar pelo mundo, quem sonha com sua própria empresa, e, afinal, quem não sonha?
O engenheiro da Poli deve ser acima de tudo um sonhador, mas um sonhador que tem as ferramentas para colocar em prática os seus grandes projetos, um sonhador que sempre desafia o razoável e o normal, desconfia do senso comum, inquieto, revolucionário, vanguarda onde quer que esteja.
Não deixemos que o cotidiano, nessa nova fase de nossas vidas, mate todos esses sonhos. Não deixemos que os nossos projetos sejam vencidos pelas inevitáveis dificuldades da vida. Não nos acostumemos com uma vida “normal”, “convencional”, “segura”. Porque viver sem sonhar, sem desejar o impossível, sem acreditar nas coisas improváveis, sem lutar pelo que realmente queremos, é viver pela metade.
A Poli, dentre seus defeitos e virtudes, é um lugar onde chegamos ao limite de nossas forças. Aqui somos testados até as últimas conseqüências, lutamos vinte e quatro horas por dia pelos valiosos créditos, fazemos o impossível para não naufragar num oceano de cálculos, físicas, vigas, fluidos, elétrons e discordâncias. Aqui não há remédio: nossas virtudes e fraquezas aparecem sem disfarce. Mas depois de tantos obstáculos surgem seres humanos de excepcional qualidade. As dificuldades são só uma forma da natureza nos preparar para os grandes desafios.
Uma frase que se aplica muito bem a essa situação é a do dramaturgo britânico Bernard Shaw, o mesmo que atribui todo o progresso do mundo aos homens insensatos. “As pessoas estão sempre culpando as circunstâncias pelo que elas são. Eu não acredito em circunstâncias. As pessoas que dão certo na vida são aquelas que, quando acordam, procuram pelas circunstâncias que desejam. Se não as encontram, eles as criam.”. E deve ser exatamente esse o espírito politécnico.
Quando emprestamos o carro de um amigo, devolvemos com o tanque cheio. Quando pedimos um favor a alguém, sempre queremos retribuir um pouco melhor. A sociedade nos deu o direito de cursar uma universidade pública. Estamos em dívida com ela. Caros colegas, sejamos bem-agradecidos: vamos devolver muito mais. Que seja essa uma preocupação constante, uma obsessão: lembremos sempre que nosso grande impulso na vida veio de tantos jovens que nunca tiveram as mesmas chances que nós.
E são eles os mais sofridos, os esquecidos, os que as estatísticas oficiais deixam de lado. São eles os que mais precisam do nosso trabalho. Estaremos construindo o Brasil do século XXI, que seja um país onde a nossa indignação se levante sempre contra as desigualdades e onde a construção da cidadania não seja sempre adiada.
Se a Escola Politécnica forma bons engenheiros, temos certeza, seus alunos tem uma grande parcela de mérito: é porque, confinados em suas salas de aula, fazendo suas provas impossíveis, passando longas noites em claro, sacrificando tudo e todos, encontramos a raça mais lutadora que existe nesse mundo, daqueles que venceram a luta mais árdua: a batalha contra si mesmo. Mas ela não foi vencida de forma solitária. Essa vitória só foi possível com a ajuda, a orientação e o inestimável apoio de nossos professores e de nossos pais
E nós que vencemos juntos essa primeira e difícil batalha, não devemos nos preocupar. Mesmo com os recentes avanços da Ciência, como a engenharia genética ou a inteligência artificial, que prometem mudar o mundo do dia para a noite, não temos o que temer. E aí eu tomo a liberdade de citar uma frase do meu tio, Prof. Moriz Blikstein, que nos deixou no último domingo, dia 24, e que não pode estar nesse ginásio contemplando o olhar emocionado e corajoso de todos esses jovens. Ele sempre dizia que vivemos uma época perigosa, na qual o valor do ser humano é cada vez mais ameaçado, na qual a ideologia dominante quer colocar os valores humanos e a ética em segundo plano, na qual se quer explicar, modelar e controlar o homem. Se as máquinas substituirão os homens, se os valores materiais substituirão os humanos e se os computadores tomarão os lugares dos engenheiros, não sabemos ainda. Mas podemos torcer para que, por mais que a Ciência avance e que os computadores insistam em imitar cada vez melhor seus criadores, continuemos inexplicavelmente encantados ao olhar um amanhecer, imodeláveis diante da pessoa que amamos, incontroláveis frente ao desafio de viver, incorrigíveis, improváveis, inalcansáveis, assim, humanos, terrivelmente humanos.
Caros amigos, formar-se na Poli é a maior emoção do mundo. Parabéns, novos engenheiros de uma nova era.

PATRONO : Paulo Blikstein


Discurso na Formatura da 115a. Turma da Escola Politécnica da USP - Paulo Blikstein (patrono)




Para o engenheiro, o mundo nunca está pronto!


Discurso da cerimônia de formatura, março de 2012
Paulo Blikstein, patrono da 115ª. turma da Escola Politécnica da USP


Em 1998 eu estava aqui fazendo o discurso de formatura da minha turma. Uma formatura que era um pouco de uma farsa porque eu ainda tinha que passar de Física 3, e para quem fez Física 3, sabe que isso vale meia formatura. Em 98 eu disse que “formar-se na Poli é a maior emoção do mundo.” E hoje, 14 anos depois, eu digo que ser convidado para ser patrono da 115ª. turma da Escola Politécnica da USP é a maior honra desse mundo. Obrigado a vocês por essa oportunidade, obrigado, formandos, comissão de formatura, pais, Prof. José Roberto Cardoso, Prof. José Roberto Castilho Piqueira. E eu queria também fazer um agradecimento, em nome dos formandos, a todos os professores presentes que abriram as subs ou que arredondaram 4.9 para 5.0. Sem vocês metade desse auditório estaria vazio.Nesses 14 anos, eu me lembro de ter tido aquele conhecido pesadelo do politécnico pelo menos 6 ou 7 vezes. Não uma, mas várias vezes, você vai acordar no meio da noite, suando frio, tendo sonhado que recebeu um telefonema da sessão de alunos, dizendo que houve um erro em uma das suas notas e vocês tem que voltar para refazer uma matéria. Então preparem-se, por que não vai ser Instituições do Direito. Vai ser Física IV, MecFlu, Cálculo Numérico.Mas hoje eu não queria falar só de pesadelos, mas de sonho. E eu queria começar falando sobre tudo que mudou de 98 a 2012. Em 98, no meu discurso, eu perguntei para a minha turma: Porque nós decidimos fazer engenharia? E eu citei aquele exemplo de Newton, de quantas pessoas viram a maçã cair da árvore até que ele perguntasse “por quê?”. E disse que o maior fascínio da engenharia talvez seja exatamente esse, poder fazer o que nunca foi feito, inventar, construir. Mas lá em 98, tudo já parecia ter sido inventado, falar em reinventar o mundo e fazer o que nunca foi feito parecia conversa ingênua de discurso de formatura. A gente tinha tudo, computadores 386, monitores de fósforo verde, internet por linha discada, pagers, celulares Startac. Em 98 eu carregava um pager no cinto, as pessoas mandavam um número de telefone e eu corria para um orelhão. Era uma revolução, antes disso a minha mãe tinha que ligar para a secretária da Metal e deixar um recado, n ormalmente perguntando se eu tinha levado um casaco. Na metade de 98 eu comprei um celular que cabia no meu bolso, outra revolução. O futuro tinha finalmente chegado. Nesse mesmo ano saiu o Windows 98 prometido como o sistema operacional mais estável da história, que não travaria nunca. O mundo parecia perfeito, pronto, inventado. Dali em diante seriam só pequenos melhoramentos. Mas em agosto de 98 uma empresa formada por dois alunos de Stanford recebeu seu primeiro investimento, um modesto cheque de 100 mil dólares. Nesse mesmo ano, uma empresa quase falida lançava o primeiro computador colorido da história, com um design completamente diferente, numa tentativa desesperada de voltar a ser relevante. Essas empresas eram o Google e a Apple.Nesse curto período de 14 anos, essas duas empresas valem mais do que o PIB de países inteiros, o Estados Unidos quebraram, assim como as inabaláveis GM e Ford, a China virou uma superpotência, em dezembro de 98 surgia o Euro, e hoje nem sabemos o que vai acontecer com ele, o Brasil é a quinta economia do mundo. Imagine um formando da minha turma de 98 que pensou – bom, é isso aí, o mundo está pronto, vou conseguir um emprego seguro e garantir um vida sem surpresas.Formandos da turma de 2012 da Poli, deixe-me dar as más notícias: para o engenheiro, o mundo nunca está pronto. Porque quem faz o mundo somos nós, os engenheiros. E enquanto houver um engenheiro vivo nesse mundo, vai haver sempre um jeito de fazê-lo melhor.Na década de 90, quando eu estava na Poli, o Brasil era muito diferente. Parecia uma crise sem fim, o um presidente havia morrido tragicamente, o outro ninguém queria, planos econômicos fracassados, os Menudos, hiperinflação, o impeachment. Naquela época engenheiro não podia ser engenheiro, não havia mercado, e era triste ter que abandonar a engenharia por falta de oportunidades.Mas hoje estamos em um outro mundo, em um outro Brasil. Hoje, o engenheiro pode ser engenheiro, o Brasil precisa e quer engenheiros, e isso é um privilégio enorme que vocês têm.Mas é difícil fazer um discurso para uma turma formada na Poli. Porque se eu falar para vocês que vocês devem acreditar no seus sonhos, eu tenho certeza que alguém vai pegar uma HP na plateia e começar a fazer a conta sobre o sonho, o possível benefício, a probabilidade de sucesso, projetar em 20 anos. Depois que você aprende o que é uma distribuição normal, é muito difícil convencer vocês a desacreditar das probabilidades e jogar-se em desafios duvidosos, arriscar, tentar coisas impossíveis.Mas há um erro matemático nesse cálculo. Quando calculamos o valor esperado, multiplicamos a probabilidade do evento pelo possível benefício. O problema é muitas vezes com 20 e poucos anos a gente não sabe avaliar o beneficio. Ganhar dinheiro, ter uma vida confortável, isso tudo não vai ser tão difícil assim para vocês. Vocês não foram treinados para ganhar dinheiro ou para os melhores empregos, vocês foram treinados para serem aqueles que podem tomar os maiores riscos. Porque quem fez Poli não se abala. Quantos de vocês já tiraram zero em uma prova? Quantos de vocês estiveram na beira do desespero, quantos de vocês foram testados até os limites das suas forças? Se vocês chegaram até aqui, não há nada mais que vocês não possam fazer na vida. E se vocês podem enfrentar qualquer desafio, a questão fundamental é ter bom gosto para escolher os desafios. Porque os desafios que você escolhe definem quem você é.Existe uma verdade muito incômoda em ser politécnico. Eu não sei se vocês vão entender hoje, eu que eu não sei se eu vou conseguir explicar direito. Mas essa talvez seja a coisa mais importante que eu aprendi nesses anos. E essa incomoda verdade é que todas as desculpas para você não fazer exatamente o que você quer da vida são exatamente isso – desculpas. Vocês talvez achem que vocês têm problemas, restrições, impedimentos. Que isso ou aquilo é muito arriscado. Claro, há raras exceções. Mas vocês tem uma chance tão rara – a chance de fazer uma escolha. Pouca gente tem o luxo de escolher o que quer fazer da vida. Mas vocês têm – e como diz um amigo meu, a não ser por cirurgia e petição, o engenheiro pode fazer qualquer coisa.Em 1996 eu escrevi um texto para o jornal dos alunos da Poli, chamado “A Escola dos Homens Tristes”, que falava da educação na Poli. E hoje, depois de passar os últimos 12 anos estudando educação, eu estou convencido de que temos todos os ingredientes para mudar a forma de se ensinar engenharia na nossa escola. Há iniciativas desse tipo vindas de todo lugar, da diretoria, da associação de antigos alunos, de professores, de alunos e ex-alunos. Eu entendo que queiramos um alto padrão de qualidade e eu entendo que devamos exigir muito dos alunos. Mas devemos exigir não só notas em provas, devemos exigir paixão pela engenharia, criatividade, habilidade de resolução de problemas, e isso não se pode ver em uma nota, em uma prova. Senhores professores, senhor diretor, vamos reinventar a cultura da Poli, uma escola que roube alunos da FEA, da FAU, e da ECA, que seja essa uma escola da paixão pela invenção, pela engenharia, dos homens e mulheres criadores.O grande segredo e a grande descoberta das melhores empresas do vale do silício, como a Apple e o Google, é que os engenheiros de lá não desenham produtos para outros engenheiros, mas sim para pessoas normais. Por isso qualquer um sabe procurar no Google ou usar um iPhone. Então eu sugiro que usemos esse princípio para o design não de um tocador de música mas para o design de um país. Vocês, que são a elite intelectual desse país, não desenhem um país para vocês mesmos. Desenhem um país para os outros, para os que mais precisam, não para ajuda-los, não para dar esmola, não por caridade, mas para incluí-los, incluí-los no mundo do saber, da cultura, do consumo inteligente, da saúde, do bem estar. Em 98 eu disse para a minha turma que quando emprestamos o carro de um amigo, devolvemos com o tanque cheio. A sociedade deu a vocês o direito de cursar uma universidade pública. Sejam bem-agradecidos: devolvam muito mais.Meus caros politécnicos, esse é o meu conselho final. A Poli, dentre seus defeitos e virtudes, é um lugar onde chegamos ao limite de nossas forças. Aqui somos testados até as últimas consequências e nossas virtudes e fraquezas aparecem sem disfarce. Vivam sempre no limite, vivam sempre na iminência de dar tudo errado, vivam cortejando o fracasso. Falhem, mas falhem brilhantemente. Errem, mas errem como grandeza. O mundo não é dividido entre perdedores e ganhadores, é dividido entre os que entendem que tudo na vida é um estado meta-estável entre uma coisa e a próxima, e os que pensam que o sucesso é uma coisa estática que se conquista.Muita gente do Brasil vem me visitar em Stanford querendo implantar um vale do silício no Brasil. Eles vêm para Palo Alto, e perguntam, qual é o segredo, nos digam o que fazer para criar um vale do silício brasileiro. E eu digo para eles – vocês não precisam vir para Stanford para aprender a fazer o vale do silício brasileiro. Visitem as suas escolas de engenharia, as suas escolas secundárias, e notem todos esses jovens com o brilho da invenção e da criatividade nos olhos. O vale do silício brasileiro já existe. O vale do silício brasileiro são vocês.Obrigado e boa sorte.



 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Co-op


Canadian Association for Co-operative Education (CAFCE)

The Canadian Association for Co-operative Education, through partnership with universities, colleges, and the business sector, actively promotes understanding, and the benefits of co-op education. CAFCE is proactive in advancing the position of educational institutions, governments, and employers involved in co-op education. It is a prominent advocate in promoting co-op education initiatives.


Cooperative Education & Internship Association (CEIA)

The Cooperative Education & Internship Association, based in the U.S.A., serves professionals who promote the educational strategy of co-operative education on a world-wide basis. As an organization, CEIA seeks to advocate work study integration, to be an important resource of technical information and assistance to schools, employing organizations, and government agencies who endeavour to establish, strengthen, or maintain their programmes. As well, CEIA offers a forum for support, learning opportunities and exposure to multiple models, concerns, and techniques for integrating work and study between members and experts throughout the field.


World Association for Co-operative Education (WACE)

The World Association for Co-operative Education is designed to foster co-operative education throughout the world. It advocates co-op and provides information and assistance to schools, employers, and governments. Its main objectives include promoting and advancing work-integrated learning at an international level; building a global alliance of education, industry, and government; advocating and advancing international work-integrated learning as a human resource development strategy; providing value-added services, information and products; and sponsoring a biennial world conference and regional forums for association members. WACE offers an opportunity to strengthen ties between education and the workplace, and to enhance individual development and national productivity.


Education at Work Ontario (EWO)

Education at Work Ontario, representing the merger between College Co-operative Educators of Ontario and University Co-operative Educators of Ontario) is organized to function as a cohesive body of post-secondary Co-operative Education Educators in Ontario. It aims to provide a forum for the exchange of ideas and information through workshops and seminars and to gather and share information, such as statistics, survey results, etc., about Ontario Co-op Education programmes. As well, goals include identifying provincial issues and needs; developing plans and strategies as necessary; promoting co-operative education to students, educators, employers, and the government; and maintaining a liaison with CAFCE and an involvement in other co-operative education associations.


Canadian Association of Career Educators and Employers (CACEE)

The Canadian Association of Career Educators and Employers is a national, bilingual, non-profit association which is dedicated to facilitating the process of matching graduates with employment. Through a partnership of employer recruiters and career educators, they seek to provide information, advice, and services to students, employers, and career centre personnel in the areas of career planning and student recruitment. CACEE represents a partnership of business and education working towards a common goal.


American Society for Engineering Education (ASEE/CED)

The American Society for Engineering Education is committed to furthering education in engineering and engineering technology. The Society aims to promote excellence in instruction, research, public service, and practice; to exercise worldwide leadership; to foster the technological education of society; and to provide quality products and services to its members. As well, the Society seeks to encourage local, national, and international communication and collaboration, to influence corporate and government policies, and to promote professional interaction and life-long learning.
The Co-operative Education division of the American Society for Engineering Education is dedicated to the improvement and furtherance of co-operative education in engineering and engineering technology. This division works to develop high principles and maintain integrity of co-operative education in both the educational and industrial worlds. CED provides leadership to engineering and engineering technology programs and offers opportunities for its committees to provide guidance in the areas of employer relations, communications, public relations, professional services, and research.


National Commission for Cooperative Education (NCCE)

The National Commission for Cooperative Education is dedicated to advancing cooperative education throughout the United States. Since 1962, the Commission and its college and business members have supported the development of quality work-integrated learning programs through national advocacy, executive outreach, public awareness, students and parent response centre, and research and education. The NCCE Board of Trustees is composed of college presidents, industry executives and representatives from government, labour and national organizations.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

The Division of Co-operative Education

http://www.mun.ca/coop/home/engineering.php

Engineering

Students from Memorial University's Bachelor of Engineering co-operative program can be of valuable help to employers. The program allows extensive work-related experience to develop along with academic study, so that practical skills and knowledge can be applied to a variety of engineering and managment-related tasks.

Engineering co-op students can contribute to many aspects of engineering projects and contractual work, including design, production, inspection, calculations and proposals.

Memorial's Bachelor of Engineering (Co-operative) program is fully accredited by the Accreditation Council of the Canadian Association for Co-operative Education (CAFCE).
Memorial’s Engineering Cooperative Education program requires students to complete four, four-month work terms (within up to six work term slots) for graduation as shown in the chart below.

Bachelor of Engineering (Co-operative)
Fall
Winter
Spring
Year 1
Engineering One *
Year 2
Term 3
Work Term
Term 4
Year 3
Work Term
Term 5
Work Term
Year 4
Term 6
Work Term
Term 7
Year 5
Work Term
Term 8
Graduate

* Students who complete the Engineering One requirements during the first two semesters of Year One may undertake their first work term during the Spring semester of that year.

Areas of academic study

In Engineering One, the first year of the engineering program, all students take a common program, which comprises courses in mathematics and basic science (physics and chemistry), as well as courses covering engineering fundamentals common to each of the majors. The engineering courses in Engineering One introduce students to engineering problem-solving, analysis, design, communication and teamwork. They will develop an understanding of the specialties, as well as the interdisciplinary nature of engineering practice.
The major programs of Civil Engineering, Computer Engineering, Electrical Engineering, Mechanical Engineering, Process Engineering, and Ocean and Naval Architectural Engineering are offered in academic term 3 through 8. The Faculty of Engineering and Applied Science also offers an Oil and Gas Engineering option beginning in academic term 6, which provides students in any discipline with a background in issues related to the offshore oil and gas industry.